‘Abutres’ e 'Medianeras', são dois grandes filmes argentinos que estiveram em cartaz no ano de 2011. Esse último ainda se encontra nos cinemas de Salvador. Àqueles que ainda não os viram, recomendo-lhes, por tratar-se de cinema da melhor qualidade. Os argentinos, nos últimos tempos, vêm trilhando uma estrada cinematográfica cada vez mais consistente e brilhante. Os temas e assuntos abordados são diversos e interessantíssimos. Sendo materializados com plenitude, por meio de bons roteiros, enriquecidos através de diálogos bem construídos, interpretados por diferentes gerações de atores de extremo talento. Todas, histórias esculpidas com o auxílio de primorosas fotografia, direção de arte e trilha sonora. Aliás, o som de suas películas impressiona pela quase perfeição.
Em todo caso, esta não é uma das crônicas ‘su-lineares’ de Caetano Veloso. Este texto deve ser sobre um espetáculo que vi no último sábado (14-01-12). Não sobre a sétima arte. Mesmo assim, acho que o primeiro parágrafo pode nos servir para delinearmos o contraste, a antítese, ou, como queiram vocês, o sofrimento da comparação.
Gosto do ator Marcelo Praddo. Há muito tempo que digo aos quatro cantos que ele é o mais talentoso ator baiano em atividade. Por isso, enfrentei a chuva, o abandono, a insegurança (que ainda continua intensa, viu, meu caríssimo Antonio Risério) e os buracos das calçadas do Pelourinho. Desembolsei R$ 8 e topei padecer por 1 hora e 20 min no absoluto desconforto do [pobre?] Teatro XVIII – que segundo informações veiculadas pela produtora cultural Gina Leite, em A Tarde de 15/11/11, recebe anualmente, através de convênio com o governo da Bahia, (a irrisória quantia?) de aproximadamente R$ 450 Mil. Aninha Franco que tem a devida razão: “Querer é poder”.
Mas eu dizia-lhes que compareci ao Teatro XVIII, na semana passada, para assistir ao dito Solo musicado ‘Thomas Toma Blues’, peça da Cia do referido Teatro, com atuação de M. Praddo, texto de Aninha Franco e direção da atriz Rita Assemany.
Trata-se de espetáculo fraquíssimo. E não somente num ou noutro aspecto. Mas antes, no todo. Tem cara e dinâmica de karaokê de confraternização do colegial. Para quem gosta, um prato cheio. Para aqueles que procuravam arte!, grande decepção.
O TEXTO DE ANINHA FRANCO...
Segundo consta, é adaptado de uma primeira versão chamada Ema Toma Blues, de autoria da própria Franco. O que se nota, porém, é um material dramatúrgico coxo, mal selecionado, e porcamente ordenado. Sem encanto. Sem consistência. Dotado de um anacronismo vaidoso e presunçoso; que, afogando-se em inanição, tenta ganhar a atenção do espectador lançando uma chuva aleatória de críticas pálidas à política, à sociedade e à cultura de um modo geral.
E, frise-se, mencionar, atabalhoadamente, com uma ou duas palavras, o vexame do Metrô soteropolitano, a destruição da orla, ou mesmo, fazer referência a certo ‘JH’, “irresponsável e chorão” {é o menino de papai, é? – nota minha} não é o bastante para Thomas Toma Blues reivindicar, para si, qualquer resquício de produto artístico. E sigo...
A ENCENAÇÃO...
Apesar de, por gerações, a excelência na música ter sido uma marca registrada da Bahia, é indiscutível a dificuldade e debilidade dos palcos baianos em produzir peças musicadas – bons musicais nem de ouvir falar. (desculpem o trocadilho infame) Alguns dirão que faltou a formação de uma Escola, ou que o advento do axé atrofiou qualquer possibilidade de o público desejar ir ao teatro em busca de atores-cantantes afinados... Não irei entrar nesta questão. Daniel Boaventura (ator baiano que vem há anos destacando-se em musicais no sudeste) disse recentemente que tudo que aprendeu, aprendeu sobre os palcos de Salvador, em época que foi ‘Cafajeste’ e andou ‘cantando cinema’ com L. M., ok, ok, Daniel.
Qual era a tentativa em Thomas Toma Blues? Um show? Um monólogo musicado? Mas como? A diretora também assina a cenografia, que denominou de ambientação. Que lugar é aquele de onde o coitado do Thomas tenta falar de suas peripécias para tornar-se um (cantor?)?
Por tudo, restou difícil vislumbrar o que a encenadora pretendera alcançar. O público não assimila a proposta. Não por tratar-se de algo inovador. Não. O problema é a confusão. A sujeira visual e sonora.
Marcelo Praddo está inseguro, desconfortável, constrangido. Interpretando, penosamente, sobre uma base de arranjos pré-gravados, doze difíceis músicas. A direção musical de Moisés Gabrielle é um horror. Entre uma música e outra, Praddo tenta dialogar com público. Está deslocado. Vocal e corporalmente deslocado. Li em algum lugar que houve certa coreografia assinada por Fafá Menezes. Cadê? Rita Assemany não precisou que tipo de interação desejava entre Praddo (Thomas) e o espectador. Juro que em certos instantes parecia haver uma distância de 4ª parede. E sabemos todos, não era o caso evidentemente... apenas o caos me remeteu à impressão.
É triste. Assistir a um grande ator desnutrido por um texto ruim. Mal conduzido por uma direção apática. De maneira que Praddo não conseguiu sair do caricatural. Andou, andou de um lado para o outro, e não se afastou da aparência de um Renato Piaba.
A iluminação de Fernanda Mascarenhas é enfadonha. Outra frustração fica por conta do figurino de Maurício Martins. Artista de competência reconhecida, desta vez Martins não ajudou. Sua criação indumentária para o personagem desta peça tem aspecto de roupa emprestada. As roupas não servem não se encaixam no sujeito, sabe como é? Muito menos ainda dialogam com os outros elementos do espetáculo.
MEUS BOTÕES...
Há algo de muito estranho com o resultado deste trabalho. Isso porque alguns dos artistas nele envolvidos, os quais respeito e admiro de longa data, são alguns dos mais talentosos e experientes de nossa terra. Por outro lado, a possível alegação de que a produção foi de baixo custo, não exime o fiasco.
Talvez já esteja mais do que na hora de os profissionais da área encararem o espetáculo teatral como um produto artístico-comercial, e não mais como um filho que, se uma vez “parido” com problemas de má-formação, deverá ser bondosamente acariciado e integrado ao afeto geral. Não. Basta de espetáculos capengas. Ate porque para jabaculê ainda não inventaram recall.
Hedre Lavnzk Couto.
terça-feira, janeiro 17
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Vc não é lá muito inteligente, hein, meu caro? Que leitura burra, do espetáculo! A culpa é sua, não da autora ou da diretora... Vc não sabe dizer nem mesmo em que lugar estava o personagem, falando de si... Transcendência, quando não se dá com arte ou sexo, só mesmo com ópio...
ResponderExcluirEduardo Brandão
Sujeira visual em um espetáculo com poucos objetos em cena e figurino "básico"... E como vc pode responder pelo público, que não assimila a proposta??? Vc fez uma enquete no dia? Quem não assimilou foi vc, e aguente e reflita sobre sua deficiência intelectual. Ou sua indisposição com quem faz sucesso no teatro baiano. Eu, se me chamasse Hedre Couto, talvez ficasse mesmo muito incomodado com os grandes nomes do teatro baiano... Com quem tem fama, prestígio e, sobretudo, dinheiro... A julgar pelo número de seus seguidores, vc não me parece muito popular...
ResponderExcluirEduardo Brandão
Nunca fale em nome do público. Nem sei quem vc é! Adorei o espetáculo e não aceito qualquer pessoa falando em meu nome. Desculpe-me mas discordo de tudo q vc falou!! Que bom q ninguém te conhece!
ResponderExcluirai, que sono...
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