Tenho me sentido cada vez mais burro quando vou ao teatro em Salvador. Parece ter-se tornado moda geral, entre os artistas de teatro de nossa querida terra, falar e escrever melhor sobre seus espetáculos, do que aquilo que se verifica como resultado da encenação, propriamente dita.
“A peça visa explicar, à luz do conceito de modernidade líquida do sociólogo polonês Zygmunt Baumam, como a urgência e a espetacularização da sexualidade nas sociedades contemporâneas resultam no esvaziamento das relações humanas e no tédio.”, é o que me diz alguém no folder do espetáculo ‘Alugo minha língua’.
Os criadores avisam que a peça pretende discutir, através da linguagem da performance, e com viés musical acentuado, as relações entre a perversão humana, a sexualidade e a sociedade de consumo. Trata-se, em verdade, de espetáculo notavelmente sofrível de se ver e ouvir.
Como não denominar de babacas, artistas que, seguem acreditando que subir num palco arreganhando a vagina e apertando as tetas é, nos nossos dias, uma atitude capaz de chocar, arrebatar ou proporcionar algum tipo de reflexão sociológica entre pessoas da era ‘Big Brother’. Ah, acorde Alice!
Sinto dizer, entretanto, o espetáculo em questão não consegue ser depravado, nem profano, nem é cabaré, nem é musical, muito menos irônico, muito menos ainda contestador de moralismo algum, senão, aquele dos próprios criadores.
A DRAMATURGIA
O texto de Gil Vicente Tavares abusa, ao longo de mais de uma hora de peça, de intermináveis falas e monólogos exaustivamente entrecruzados, uma salada desordenada de frases ocas, na tentativa de um non-sense proposital, que se precipita desesperadamente na tentativa inglória de atingir e constranger o espectador. Um conteúdo e um formato que deixam a plateia, já aos trinta minutos de espetáculo, numa agonia retada com uma incrível vontade de ‘se picar’ logo para casa. A ideia de buscar auxílio em Baumam, para influenciar a discussão foi boa, mas, a compreensão dos artistas em relação a teoria do polonês esteve alhures. No mais, as canções são péssimas.
A ENCENAÇÃO
Fernando Guerreiro bem poderia ter salvado alguma coisa, estranhamente nada fez – de acertado. Não conseguiu empregar ao espetáculo nem moldura nem dinâmica. Um musical? Um cabaré? Um açougue? Onde está aquela tal forma perigosa, questionadora que o diretor apregoou ter alcançado neste trabalho? Por outro lado, o espetáculo é realmente fracionado, isso sim, bastante.
ATORES
Difícil tentar construir até mesmo a sombra de um musical com atores que não cantam nem têm trabalho corporal , não dançam, não falam direito. Frígidos. Certamente eles devem ter querido fazer um neo musical, e realmente nada do que falo tem sentido, afinal estou me tornando burro, é sintomático. O elenco é formado por Ciro Sales; Luisa Proserpio; Marinho Gonçalves; Vanessa Mello e Will Brandão.
A propósito: o que é uma performance? “Boa perturbação”!
Hedre Lavnzk Couto
p/ Carolina
segunda-feira, janeiro 9
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