‘Um homem é um homem’, de B. Brecht, encenado pelo Grupo Galpão, é, sem dúvida, o melhor espetáculo de teatro já visto por mim. Os artistas mineiros, naquela peça, exploraram brilhantemente os recursos da narrativa épica do teatro brechtiano. Um espetáculo impressionante. Que tenho até hoje, com carinho e gratidão, guardado na memória.
Mas aquela noite prazerosa, vivida na sala principal do Teatro Castro Alves, ficou no passado. Na noite de hoje estou no Teatro Sesc Pelourinho. Tomo meu assento na platéia. Vai começar ‘As Velhas’. Começa. Como sempre, estou concentrado. Atento a tudo e a todos sobre o palco. O tempo vai passando. E eu observo. E pondero. Observo. E pondero. Sou daqueles espectadores que sempre saem de casa otimistas. Sempre torcendo pela encenação. A cabeça inicia um momento crítico da ebulição. E então surgem as minhas primeiras anotações: ‘Não consigo entender. Que situações são estas em cena? Quem são eles? Onde estão? O que estão fazendo? É este, o objetivo? Me deixar perdido? Estão tentando usar ferramentas da narrativa épica, é isso? É esta uma tentativa de cena-não-naturalística?’ Escrevo tudo isso enquanto metade da platéia conversa muito e – atipicamente – alto! - Talvez, (penso) estão se fazendo as minhas mesmas perguntas.
Decido então olhar rapidamente o programa do espetáculo. – Ah, sim! Diz aqui que é uma peça que trata do nordeste. Aqui diz: “drama passional vivido em meio à secura da terra. Duas mulheres que lutam por suas terras, maridos e filhos, numa espiral de vingança e solidariedade, que termina revelando a beleza trágica do sertão.” Bonita. A sinopse. Não há muito que falar sobre esta peça. Mas devo concluir [fazendo minhas] as palavras de um dos personagens: “quem se abaixa demais o cú aparece”, Marfuz!
Espetáculo visto na sexta-feira (5-8-11) no teatro sesc selourinho. salvador- Bahia – Brasil.
ps1: direção de Luiz Marfuz, professor de fundamentos do espetáculo da etea-ufba.
ps2: Lourdes Ramalho é a dramaturga. Dramaturgia, aliás, que lembra muito as peças inconsistentes de Dinah Pereira.
Ps3: poder-se-ia acrescentar ao título do espetáculo: ‘As Velhas... maneiras batidas e pedantes de os pseudo-intelectuais perceberem a cultura nordestina'.
Ps4: ou mesmo poder-se-ia alterar ‘As Velhas’ para o título ‘O Equívoco’. E Camus, que teria homônimo, que me perdoe.
Ps5: ninguém nunca conseguiu me explicar o que é ‘teatro físico’. Será que esse é o nome que alguns dão pra meia dúzia de atores, em cena, se debatendo em violentos espasmos e convulsões?
Ps6: não há dúvida de que Marfuz tem plena consciência que essa abordagem estereotipada do nordeste é um estelionato cultural e artístico. E é evidente que Marfuz conhece e sabe empregar, como poucos, os recursos da cena-não-naturalística e de qualquer outro tipo de teatro. Mas o que mais me espanta é esta rotina que já se estabelece na carreira de tal diretor: ele tem concebido e apresentado, reiteradamente, espetáculos extremamente (eu serei educado) ‘descuidados’ – assim o foi em ‘Policarpo Quaresma’; em ‘Atirem a primeira pedra’, onde ele destruiu Nelson Rodrigues; e agora temos este ‘As Velhas’, que, se certamente for visto por alguém que está indo ao teatro pela primeira vez, fará com que este espectador nunca mais lá volte.
Hedre Lavnzk Couto
p/ Carolzinha.
segunda-feira, janeiro 9
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