Nesta primeira semana de fevereiro pretendo ver o Espetáculo ‘O Indignado’, em cartaz em Salvador, sob direção do famigerado Fernando Guerreiro. Como ouvindo à boca pequena que o diretor classificou-o de Stand-up comedy, irei até o Teatro Jorge Amado para dá uma espiadela e dividir o resultado com vocês, mas antes, um pouco de teoria...
Como expressão verbal é herança da Língua Inglesa: To stand up. Que literalmente traduzido vem a significar ‘Permanecer em Pé’, que tem sua variação imperativa em Stand up, ou seja, ‘Permaneça em Pé’. Assim, pois, Stand -up Comedy significaria, numa tradução literal, comédia em pé. Ou humor de pé.
Já como expressão artística, o Stand-up Comedy significa um estilo de humor, um formato de número humorístico que possui larga e vitoriosa história nos Estados Unidos e, que, desde o início dessa primeira década dos anos 2000 vem conquistando significativo espaço entre os humoristas do Brasil, se transformando de lá pra cá num fenômeno de público e ajudando muita gente por aí a pagar o aluguel.
O segredo desse sucesso aparentemente é simples: Sem usar cenários, adereços, efeitos de iluminação, trilha sonora, figurinos ou maquiagens engraçadas, um humorista sozinho, munido de microfone sobe ao palco e lá apresenta textos de sua autoria. Esses textos ou material devem ser trabalhados de maneira improvisada e sempre inspirados em situações e experiências de seu próprio dia-a-dia. De ‘cara limpa’, ou com muita ‘cara de pau’, o humorista não se esconde atrás de personagem nenhum, não transforma a si mesmo em personagem e tem como missão ser ele próprio o tempo todo. Assim assume o seu temperamento bem como o(s) seu(s) estado(s) diante da platéia, se é mal humorado, também o é no palco; se é nerd ele fala de nerds; se é judeu ele fala de judeus; se é gay ele fala de gays; se é gordo ele fala de gordos; se está de saco cheio ou eufórico não tenta esconder de ninguém e usa isso de acordo com a recepção da platéia, de acordo com o seu material e as próprias circunstâncias da noite.
Mas as facilidades para se realizar o estilo de humor Stand up comedy são meramente aparentes. Os humoristas que se lançam na prática deste sofisticado formato de humor têm de possuir e desenvolver uma série de habilidades indispensáveis para não desistirem da carreira já na primeira noite. Não basta, portanto, ser apenas histriônico. Para começo de conversa o sujeito tem de ser um baita observador de si mesmo, depois é preciso está o tempo inteiro antenado com o que ocorre em casa, no condomínio, no trabalho, na cidade e no mundo e ainda ter sensibilidade suficiente para selecionar o que de tudo isso toca em comum com a vida das outras pessoas, para em seguida por a prova suas habilidades de escritor articulando de maneira técnica o seu material, tornando-o algo artístico e muito, muito engraçado. Depois de preparado essa primeira versão de seu texto – primeira porque o contato com público e os acontecimentos do cotidiano irão, sem dúvida, transformá-lo pouco a pouco – o humorista vê-se diante de uma missão que poucos atores se arriscam: encarar uma platéia, sozinho e despido de qualquer ajuda que não seja sua própria capacidade individual. Para ser um bom humorista stand up faz-se necessário ser engraçado, rápido, observador e, sobretudo, crítico. Para fazer um número com brilho e vigor e dominar a atenção e empatia da platéia, o stand up está constantemente renovando e testando seu texto, ele não cede a comodidades e jamais faz uso de piadas que já caíram em uso popular, ou que foram difundidas pela internet, e também nunca conta aquelas velhas anedotas da loira, do papagaio e do português. O verdadeiro stand up comedy não é exagerado nem grotesco, não é daqueles que fazem caretas e bufam e fazem vozes estridentes, ele tem estilo refinado, de humor sutil, é adepto de gestos e expressões corporais comedidos, pode arrancar gargalhadas de milhares de pessoas apenas dominando habilidosamente a respiração entre uma e outra observação sagaz; pode despertar euforia na platéia (encaixando uma irônica piada política ou sentimental) apenas com a forma de enfatizar de maneira original uma sílaba de uma palavra; pode conquistar fãs ao passo que conta as mazelas de si mesmo entrecortadas por um preciso movimento de olhar.
Hoje no Brasil temos um milhão de sujeitos que se dizem ‘stand up comedy’, porém 99% deles seriam mais honestos se procurassem outros rótulos para poder vender o peixe, porque o que se vê por ai é um emaranhado de caretas, de grosseria visual, de falta de talento textual e artístico e, sobretudo, oh meu Deus, que gentinha sem graça! É inacreditável que toupeiras amorfas como 'Rafinha' Bastos consigam se auto-intitular stand up e ainda subir num palco. E ainda ser tido (queria conhecer pessoalmente o cretino que andou escrevendo isso) como uma das feras do gênero, no País. As pessoas andam mesmo comendo cada uma coisa por aí...
Hedre Lavnzk Couto
Texto escrito em 01/02/10
Salvador.
segunda-feira, julho 11
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