Estou curioso em ver Siricutico, uma Comédia do Balacobaco.
Esse é o mais novo espetáculo da Cia. Baiana de Patifaria, em cartaz no teatro do ISBA. Não sei se o espetáculo me agradará. Mas, por outro lado, tenho grande admiração por esse grupo de teatro. A história de criatividade e sucesso da Cia. Baiana de Patifaria tem início em 1987 quando da montagem do espetáculo Abafa-Banca. Já no ano seguinte eles levaram à cena A Bofetada, espetáculos ambos com direção de Fernando Guerreiro. Na seqüência, com direção de Wolf Maya, adaptação e tradução de Fernando Marinho, eles montaram o grande sucesso de Dan Goggin, Noviças Rebeldes.
Admiro duplamente os feitos da Cia. Baiana de Patifaria. Primeiro, porque eles conceberam uma cara nova, baiana, picante, colorida à chamada estética teatral Besteirol. O Besteirol que assim foi rotulado pela primeira vez em 1980, pelo crítico Macksen Luiz, tem sua origem na cidade de São Paulo, em 1979, quando dois atores-autores, Miguel Magno e Ricardo de Almeida, estrearam o espetáculo Quem tem medo de Itália Fausta?. Já no início dos anos 1980 essa estética começa ganhar considerável número de adeptos e espectadores na cidade do Rio de Janeiro e não demora a se tornar febre lucrativa na cena carioca.
Mas até 1988 só se conhecia, de fato, apenas um jeito de se fazer Besteirol, o chamado temperamento carioca. E eis que surge a contento a Cia. Baiana de Patifaria, que tem a brilhante idéia de fazer um espetáculo que seria uma feliz junção adaptada de parte de dois dos maiores clássicos do Besteirol: unia-se os brilhantes esquetes de Quem tem medo de Itália Fausta (Magno e Almeida) com outros inesquecíveis esquetes de Pedra, a Tragédia, (Mauro Rasi). Mas não bastou para a Patifaria apenas a idéia oportuna de trabalhar com bons esquetes, os baianos acabaram dando um tratamento muito específico àquele material dramaturgo paulista: fizeram, nas palavras do crítico Flávio Marinho - a Carnavalização do Besteirol. Diferentemente das outras versões nacionais, o Besteirol da Patifaria critica com mais virulência os fatos e comportamentos humanos; traz um tom propositadamente mais debochado, mais ‘sujo’. Eles fazem assim, na maioria dos seus espetáculos, a carnavalização do carnavalesco. Ou seja, cutucam através do grotesco.
Todavia preciso dizer que minha inclinada simpatia pela Cia. Baiana de Patifaria existe, sobretudo, pela capacidade de empreendedorismo que eles manifestam desde o início de sua história. A Patifaria é hoje, e há muito tempo, um dos poucos grupos teatrais da Bahia que mantêm uma filosofia e uma prática do empreendedorismo comercial teatral. São empresários do teatro. Não vivem esperando as esmolas dos editais estatais. Eles vão a luta, conseguem seus parceiros, fazem inteligentes jogadas de mercado, vivem basicamente de sua generosa e abençoada bilheteria. Empreendedorismo é o que a Patifaria tem! Empreendedorismo é o que falta a maioria dos outros teatrantes da Bahia, que preferem se resignar ao papel de parasitas crônicos das divinas tetas do Estado. Meu avô Chico já dizia, ‘quem trabalha, Deus ajuda!’ Fica aqui a minha homenagem.
Pena é que hoje Besteirol, pela banalização do termo, virou sinônimo de tudo quanto é espetáculo ruim que se faz por aí. Assim como o bom teatro ‘num sei das quantas’ é bom de se ver e ouvir, o bom Besteirol é bom quando é bom, e pronto. Às vezes, espetáculos pretendidos intelectualmente refinados e sofisticados semanticamente, acabam se saindo verdadeiras ‘bestagens’, vide alusão às duas últimas montagens teatrais do núcleo de teatro do TCA , a saber Policarpo Quaresma (direção de Luiz Marfuz), e Jeremias, o Profeta da Chuva (Adelice Souza). Me deixe, viu! Eu gosto de Besteirol!
*Pretendo em breve postar aqui um texto mais completo e aprofundado sobre essa estética muito desconhecida e muito assistida, e odiada pelos radicais e/ou pseudos gênios.
Hedre Lavnzk Couto
segunda-feira, julho 11
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