A frase acima é o título de um artigo publicado na edição de A Tarde, em 24/10/11, pelo “cidadão baiano e artista” Marcio Meirelles – secretário da cultura no primeiro mandato do governo Wagner.
Não se faz preciso o leitor ser brilhante para perceber que o referido texto de Meirelles surgiu em resposta a outro artigo, também publicado em A Tarde – “Mais respeito aos artistas baianos” -, de autoria do também diretor teatral [e burocrata ad hoc] Luiz Marfuz. Naquela ocasião, esse último esbravejava contra os organizadores de um Festival de Artes Cênicas ocorrido em Salvador, que tinham cometido o ‘crime de lesa arte’ de não incluir na programação um tal subproduto artístico de alcunha ‘As Velhas’.
O fato é que Sua Excelência, o ex-secretário Marcio Meirelles, ao que parece, não se conteve diante da manifestação do colega e, empolgou-se por debater na nossa Ágora teatral local.
Meirelles escreve para discordar de Marfuz. Para ele é incompreensível o descontentamento de alguns artistas soteropolitanos em relação aos Festivais baianos de teatro, especialmente quanto ao FIAC – o Festival da presente polêmica. O diretor Marcio, ou o ex-secretário Meirelles, não se sabe ao certo quem dos dois, considera uma pena que tais manifestações divergentes ocorram. E chega sutilmente a instilar que tais investidas vêm como fruto de gente que esperneia por terem seus espetáculos preteridos. E Marcio se julga muito tranqüilo para tratar desse caso, uma vez que seu espetáculo, ‘Bença’, se apresentou no Festival.
E o professor Meirelles segue nos ensinando: “um Festival de teatro não é uma seleção pública: tem uma curadoria, escolhendo espetáculos de acordo com critérios estéticos, para um determinado público” [?]. E prossegue o exímio observador: “As platéias (nos festivais realizados em Salvador) ficam lotadas, sempre, coisa que não tem acontecido com os espetáculos baianos” (fora de festivais) – e aqui já discordo enfaticamente do ex-secretário: é uma inverdade afirmar que os espetáculos que são levados à cena em festivais de Salvador estão sempre de platéia cheia.
Mais à frente, em seu artigo, o teatrólogo do Teatro Vila Velha analisa que se no geral os teatros andam vazios, tal realidade não é culpa do público. Sua (ex) Excelência sentencia que o que acontece atualmente (na Bahia), de fato, é “uma crise de linguagem do teatro”.
Ora, Marcio Meirelles, que crise de linguagem que nada. O que há, é falta de vocação e de talento. ‘Crise de linguagem’ é uma tentativa de emendar expressão sofisticada querendo esconder a anta atrás do chifre. O que temos, saudoso ex-secretário – salvas as honrosas exceções – são atores, diretores e criadores de cultura rasa. Preguiçosos, toscos e medíocres eis o que é a grande maioria dos espetáculos do atual teatro baiano.
O que temos é: de um lado diretores-professores-acadêmicos-desleixados-fanfarrões fazedores de abacaxi. De outro, uma geração mais jovem que nada sabe de literatura, de música, de filosofia, da alma humana, da complexidade da sociedade moderna, dos elementos do espetáculo teatral, que nada entendem de direção de atores e continuam fazendo seus monstros teatrais. E quanto aos atores, não sabem falar em cena – Hackler tinha razão quando gracejava que os vendedores de A Tarde sabem dominar melhor a dicção do que a maioria dos nossos atores. Atores que em cena não sabem andar, nem sentar, nem segurar um talher, nem olhar no olho do contracena. E, pasmem: atores que em leituras (ensaios) causam demasiado constrangimento por não saberem sequer ler. Então, não posso concordar, senhor Meirelles, que o infortúnio do teatro baiano seja crise de linguagem. É falta de talento, vocação estudo e trabalho.
Por tudo, eu de minha parte repudio o “Mais respeito aos artistas baianos”, de Marfuz; e o seu “Mas respeito aos Festivais”, excelentíssimo senhor ex-secretário da Cultura do Estado da Bahia, Marcio Meirelles. Eu, cidadão baiano, exijo mais respeito aos espectadores e ao dinheiro público, do nosso povo, tão mal utilizado e gerido por Vossa Excelência (2007-2010) quando o jogou no ralo fétido da dissimulação e da incompetência.
Mas, não. Certamente eu devo estar blasfemando. E peço-lhe minhas mais sinceras escusas por este desabafo desajeitado e inoportuno. Por isso, na tentativa honesta de corrigir-me consigo, lanço aqui, para todos, uma modesta idéia: - vamos todos, artistas e cidade, cultuar com amor, o nome Marcio Meirelles. Mais que isso, queridos amigos, vamos de logo trocar o nome da Avenida 7 de Setembro para ex-secretário da cultura Marcio Meirelles Street. Porque entendemos a verdadeira importância de sua pessoa, querido Marcio.
Por fim, ‘mas respeito a hipocrisia na sociedade da Bahia’, porque ela está dando certo. E nada de desqualificá-la publicamente,né, Marcio Meirelles?
Hedre Lavnzk Couto
quinta-feira, novembro 17
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário