sábado, novembro 19

“Uma lástima de incompetência”

Foi com a frase acima que o jornalista Samuel Celestino, em seu artigo ‘Agonia da cultura’ – A Tarde, 25/10/11 – definiu o ex-secretário da cultura estadual, Marcio Meirelles.

Ao longo de detalhada análise, Celestino afirma que a Secretaria da Cultura do Estado da Bahia atravessa, atualmente, “momentos delicados, senão penosos.” Para o experiente e respeitado jornalista, tal quadro é “uma consequência previsível da gestão anterior que desestruturou a máquina da cultura”.

Diz o articulista que no período que Marcio Meirelles esteve à frente da Cultura do Estado, houve agudo retrocesso em todos os setores, “a começar pelo aspecto político, quando se inventou o que já havia sido inventado: a interiorização da cultura”. Em sua opinião, tal medida, dita “democratizante de esquerda”, gerou profunda retração na produção cultural da cidade do Salvador.

Assim, numa atabalhoada tentativa de levar a cultura à cidades do interior - extinguindo, exitosos projetos já existentes(na gestão anterior a Meirelles), a tal finalidade reformadora empreendida pelo secretário ‘petista’, atrapalhada, apenas conseguiu alcançar o enfraquecimento mútuo das políticas culturais da Capital e das cidades baianas do interior.

O artigo é, longe de dúvida, duro e faz diversas referências a dados que atestam que, nos primeiros 4 (quatro) anos do governo Jaques Wagner, a política cultural entrou em total colapso. Celestino critica o governador, que teria sido omisso, uma vez que deveria ter demitido o então inábil secretário da cultura que, deixou o cargo, somente ao final do quatriênio, com a pecha de inimigo dos atores culturais da Terra.

O alerta prossegue ainda observando que tal realidade de flagelo da cultura regional era de conhecimento e descontentamento de todos, porém, não teria ela sido descortinada de maneira mais contundente, à época, em decorrência de o setor cultural da Bahia, como o sabemos, ser extremamente dependente de verbas governamentais e, por conseguinte, temer represálias de caráter orçamentário.

Samuel Celestino vai mais longe, e também veicula informações atribuídas ao novo secretário estadual da Cultura, Albino Rubim, que reconhece que a gestão que lhe antecedeu deixou dívidas resultantes de editais dos anos de 2008; 2009 e 2010. O atual secretário, portanto, teria admitido que a gestão atual teve de administrar tal desequilíbrio, vendo-se obrigada, a Secretaria, em consequência, a lançar em 2011 apenas um único edital, no valor possível de R$ 5 milhões.

Além da equivocada política de (re) interiorização da cultura, ainda segundo o mesmo cronista, a crise também teve por causa aquilo que ele denominou de “outras aplicações de recursos em entidades de Salvador, como, por exemplo, o Teatro Vila Velha, que vem a ser, por mera, absolutamente mera coincidência, de Marcio Meirelles”. Contudo, com suas observações, o jornalista adverte que não intenciona “levantar lebres imensas”.

“A QUEM INTERESSAR OS ATAQUES AO VILA VELHA”


Com o título supra, em A Tarde de 15/11/11, Gina Leite, coordenadora geral do Teatro Vila Velha, ao que parece, contesta as críticas de Samuel Celestino ou de vozes ocultas. Com tom arrogante e presunçoso, a também autointitulada produtora e escritora, traça um histórico recheado de números e ufanismo, onde define o [imprescindível] Vila Velha como “usina cultural e artística, com contribuição inquestionável para o Brasil”. Ora, ora...

Logo depois, a discípula admite que o Teatro Vila Velha “recebe recursos do Estado”, mas, através de “ação que foi ordenada em 2010 (...) pela Secretaria da Cultura, em edital, elaborado em parceria com a Procuradoria Geral do Estado, com critérios de avaliação e pontuação objetivos, para que a escolha das instituições apoiadas não fosse um ato apenas do secretário (...) o Vila concorreu, teve sua proposta aprovada (...)’.

Na esteira dos dados que a própria Gina Leite veicula, a Secretaria da Cultura destina R$ 450 mil/ano ao Teatro Vila Velha. Agora, vejamos: Quanto aos critérios e procedimentos adotados para a realização do edital citado, ok. Contudo, todavia, entrementes, aderentes e dementes: todos (nesta terra amada de Jorge) sabemos da histórica e visceral, se não, espiritual, ligação do ex-secretário da Cultura, Marcio Meirelles, com o T. Vila Velha. Então, por mais que as folhas por lá sejam sagradas, e por mais plenamente legal e acompanhado (pela PGE) que tenha sido o famigerado edital, há aí, sem dúvida, amigos, um ténue, mas não menos vexatório, conflito de interesses. Se não legal, moral.

Vamos àquele irresistível lugar comum? Vamos: repita comigo, o tio aqui vai lhe ensinar, Marcio: ‘Nem tudo que é legal é moral’. E aqui pra nós – é, no mínimo imoral, alguém que eternamente dirigiu, ou coisa que o valha, uma Instituição, in case o TVV, e, uma vez à frente da Secretaria Cultural, contemplar, mesmo que seja via o mais probo dos editais, um teatro que é sim, “seu”.

Mas o artistas raivosos de plantão ficarão inconsoláveis comigo e bradarão: - ‘Mas o Vila não poderia ficar de fora, prejudicado, tinha direito de participar do edital, ora bolas, afinal trata-se de processo público e, conquanto nada lhe seja vedado e coisa e tal, nada tinha que ver o Teatro que o Meirelles estivesse secretário. Ok. Ok. Simples, como uísque: Então, Sua ex- excelência jamais deveria ter aceitado o cargo público que lhe foi oferecido. Mas sei, sei... Ele aceitou movido pelas já sabidas boas intenções, amém!


Hedre Lavnzk Couto.

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